Wednesday, March 13, 2024

Presente dois, presente sete!

Na vida faróis, uns pra frente, outros pra trás, como diria o xará Pedro Nava. E como na analogia, faróis são dois, como nossos olhos.

Pedro também, como meu pai, e muitos outros com quem partilho nome forte, histórico, bíblico e... confuso! Ao menos na minha cabeça -de criança, ao ter que confrontar todas as raivas que ao pai se destilava (deste-lado?), e que, pelo nome me esbatia, estabanava, estrouvava, como se diz por cá.

O primeiro farol do caminho tinha também uma caminha que me acolhia: irmã mais velha com responsalidade de sobra, cabeça no lugar e fome de viver como poucos. Aliás, não só de viver, mas também uma imensa fome de justiça e correção, de equilíbrio e de conhecimento, e certamente outras tantas que nem sei dizer, não sei se ví. Vi, alias; vi, ví e vivi... Há uma gratidão tão grande aqui que as vezes até me assusta pelas construções de significados tão amplos, diversos e enigmáticos. Exatamente contigo aprendi ainda a buscar os sentidos materiais da existência. Daí que, sempre que me encontro com mistérios que me parecem muito profundos e enigmáticos, me assusto cadim novamente...

Em seguida outro farol potente e iluminado, arca de tantas expectativas alanhadas, e que, quase sempre, as ultrapassou com folga... Raciocínio matemático, matemágico, conexão causal bem estabelecida, desafios ininterruptos na sua própria busca pelo caminho, que, pelo caos da existência nem precisava de mais gente pra atrapalhar. Mas tinha bastante. Competência de realização, realizações amplas e rápidas, me mostrou que o caminho tem sim um lado do mérito, que deve ser respeitado, que pode ser realizável - e que cobra seus preços. Mostrou também que essas conquistas precisam estar alinhadas com o coração. E que esse alinhamento é dos mais difíceis para qualquer pessoa - ainda que seja menos difícil para uns do que para outros, pois afinal, o que tratamos aqui são as relações. E relação acarreta contato. E "se há contato, há atrito!"

Por contraste, sigo pelo contraste das idades: quando pequeno eu dormia num quarto com o irmão imediatamente mais velho do que eu - ainda que já houvesse aqui quatro anos de diferença. Foste meu primeiro exemplo a seguir: introspecção e alegria interna, compromisso consigo próprio sem egoísmo, leitura absorta e planos infalíveis autossuficientes... Sempre escutei de ti, antes de qualquer outro, a visão da vida que o futuro confirmaria. Amigos fartos, (sempre os melhores!), admiradores e respeitosos, alegradores dos ambientes, sempre coletivizadores, como tu. São tantos a nomear, que vou escolher somente um, como símbolo daqueles muitos: saudades de Eduardo, lindo e admirado por homens e mulheres, sorrisão e alegria de viver.... Em um episódio de minhas memórias, quando assisti tua queda do paraíso (12 metros medidos!) e saíste ileso num inacreditável espaço justo entre megalitos... Em seguida, exatamente com Eduardo, foste navegar alegre e misterioso pelas brumas de um avalon que já não existe mais. Saudades de não poder mais revisitar isso junto contigo e com Eduardo, escutando aquela boa e sonora risada, entre os outros muitos bons amigos...

Meu primeiro herói é uma pessoa que mudou muito com a vida - e foi mudado por ela. Sorriso fácil, encantamento infinito pelo mar e pelo bem, parceiro e lealdade para toda a vida, me ensinou a confiar. Assim, só: confiar. Contigo voei alto, caí, sobrevivi, voei de novo. Assim! Se não tivesse sido assim, talvez nem fosse. Mas foi. E histórias pra contar. Na minha casa de origem sempre teve material para leitura para todas as idades (viva por mais isso, Marilita!). Mas história contada, aprendi a gostar contigo. E sigo contando até hoje, numa "soberania na noite neon" que abre espaço pra tocar junto, rir até gargalhar e ficar nas lembranças todas sem sofrer.

Depois, enigmas. Complementariedades sobre contrariedades. Semelhanças em cabimento, aparências que se sobrepunham pela altura, disputa acirrada... Se a idade me aproxima de uma, a afetuosidade, da outra. Amigos e obstinação, uma e outra. Nem sei se é justo unir essa combinação em um texto único, mas a proximidade geográfica de longa duração (que já não há) me fez ver alguma coisa de proximidade dentro de mim, que penso que ainda necessito elaborar. E laborar. A gente nunca sabe precisamente o que a infância legou em nossas convivências. Mas poder assistir outras convivências, a mim, ajuda a elaborar. E aqui há fartura, sempre houve. Partilhar amigos, talvez roupas, talvez sapatos. Saber receber, acolher, saber brigar. Brigar mesmo sem saber, dividir banquinho, choratório, biscoito bis, pavê de chocolate, quindim, festa de aniversário. Conferir nota de compra, pegar cocacola no draivin, fantágua, suflê de cenoura, café com leite negado, corre cada um prum lado, bicicleta, tio Júlio, Socorro!... Muitas memórias do dia a dia que fazem como que uma base que dá sentido para as aventuras do de vez em quando. Dividir o que parecia pouco, mas que sempre foi o suficiente. Fazer o pouco virar muito, sobrar. Sobrar marilita, tão pouca, tão farta, tão verdadeira em suas próprias confusões. E nas minhas... Pronto, achei o que procurava, aqui nesse bafo da onça de meu coração: vocês me trazem mamãe em sua complementariedade, contrariedade, bondade e enormidade de coração. É bom fazer o bem. Quer menos...?

Duas almas ainda se juntaram no caminho da fraternidade, o povo do W: Walter e Oswaldo me mostraram que ser irmão é também construir: com alegria pela presença, com afeto, vontade e respeito. Com limite, briga e algum excesso. Com contraste, sem traste, traste... E triste... Hoje triste pela ausência de vadinho, alegre pela presença de walter. Conquistar corações e mentes por caminhos distintos dos de irmãos de pai e mãe. Conquistar meu coração e minha mente, mostrar que sempre cabe mais um nisso tudo -para além da marilita, é claro!- sendo diferente dela, sendo homem na lide, sendo frágil na luta, sendo forte na presença. Como uma cola de argamassa, vocês me presentearam com a matéria de observação que interliga o dentro e o fora, sem descontinuidade. Como uma solda. Solda bem feita que só fui aprender a fazer com vocês dois, cada um ao seu jeito. 

Gratidão!

Wednesday, February 14, 2024

Presente

de Deus

preparar para a transcendência , e nem precisa acreditar


de Darwin 

entender que o processo leva tempo, aliás, um tempão


do destino 

encontrar o buraco que eu caí ontem... e aprender a ver


de meus muitos irmãos

diferenças, diferenças, semelhanças, diferenças, semelhanças, semelhanças


do mercado, marcado

prisão e liberdade, hoje e ontem, seguro e risco, posse, compartilhar e sempartilhar


da maturidade

rever, reouvir, resentir, recheirar, retocar


da ousadia

conformar, indignar, reformar, tentar. Cair e levantar. Levitar 


das parceiras

gozar junto, fazer e acontecer, desfazer e chorar, refazer e aprender a refazer e a desfazer


das parcerias

foco e contexto


da escola

separar, juntar, classificar, aprender, apreender e ficar apreensivo


da escola técnica

diferenças, semelhanças, serviço militar obrigatório. Fraternidade e competição, sempetição




da escola dos outros

dificuldade espalhada, compartilhamento espelhado, burrice atrapalhada. Lição de história e estórias 


da longevidade

ganhar o mundo, ver ficar grande, ficar pequeno, perder o mundo, se perder do mundo, encolher, escolher


da vida

presentear!

notas:
Trancendente: [Do lat. transcendente.], Adj. (Aurélio séc XXI) 
 1. Que transcende; muito elevado; superior, sublime, excelso:    
 2. Que transcende do sujeito para algo fora dele. 
 3. Que transcende os limites da experiência possível; metafísico
 4. Filos.  Que se eleva além de um limite ou de um nível dado. 
 5. Filos.  Que não resulta do jogo natural de uma certa classe de seres ou de ações, mas que supõe a intervenção de um princípio que lhe é superior. [Opõe-se, neste caso, a imanente.]  
 6. Filos.  Que ultrapassa a nossa capacidade de conhecer. 
 7. Filos.  Que é de natureza diversa da de uma dada classe de fenômenos.
  Darwin na Wikipedia: Charles Robert Darwin, FRS (pronúncia inglesa: /'dɑː.wɪn/; Shrewsbury, 12 de fevereiro de 1809 — Downe, Kent, 19 de abril de 1882) foi um naturalista britânico que alcançou fama ao convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural e sexual.1 Esta teoria culminou no que é, agora, considerado o paradigma central para explicação de diversos fenômenos na biologia.2 Foi laureado com a medalha Wollaston concedida pela Sociedade Geológica de Londres, em 1859.
Darwin começou a se interessar por história natural na universidade enquanto era estudante de Medicina e, depois, Teologia.3 A sua viagem de cinco anos a bordo do brigue HMS Beagle e escritos posteriores trouxeram-lhe reconhecimento como geólogo e fama como escritor. Suas observações da natureza levaram-no ao estudo da diversificação das espécies e, em 1838, ao desenvolvimento da teoria da Seleção Natural.4 Consciente de que outros antes dele tinham sido severamente punidos por sugerir ideias como aquela, ele as confiou apenas a amigos próximos e continuou a sua pesquisa tentando antecipar possíveis objeções. Contudo, a informação de que Alfred Russel Wallace tinha desenvolvido uma ideia similar forçou a publicação conjunta das suas teorias em 1858.5
Em seu livro de 1859, "A Origem das Espécies" (do original, em inglês, On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life), ele introduziu a ideia de evolução a partir de um ancestral comum, por meio de seleção natural.1 Esta se tornou a explicação científica dominante para a diversidade de espécies na natureza. Ele ingressou na Royal Society e continuou a sua pesquisa, escrevendo uma série de livros sobre plantas e animais, incluindo a espécie humana, notavelmente "A descendência do Homem e Seleção em relação ao Sexo" (The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex, 1871) e "A Expressão da Emoção em Homens e Animais" (The Expression of the Emotions in Man and Animals, 1872).
Em reconhecimento à importância do seu trabalho, Darwin foi enterrado na Abadia de Westminster, próximo a Charles Lyell, William Herschel e Isaac Newton.6 Foi uma das cinco pessoas não ligadas à família real inglesa a ter um funeral de Estado no século XIX.
  Destino, no Aurélio Séc. XXI: destino: [Dev. de destinar.], S. m. 
 1. Sucessão de fatos que podem ou não ocorrer, e que constituem a vida do homem, considerados como resultantes de causas independentes de sua vontade; sorte, fado, fortuna. 
 2. P. ext. Aquilo que acontecerá a alguém; futuro. 
 3. Fim ou objeto para que se reserva ou designa alguma coisa; aplicação, emprego. 
 4. Lugar aonde se dirige alguém ou algo; direção.  
  Levitar, segundo Aurélio Séc. XXI: [Do lat. *levitu, por levatus, part. pass. de levare, 'levantar', + -ar2.], V. int. 
 1. Erguer-se (pessoa ou coisa) acima do solo, nas experiências mágicas, ou como que em tais experiências, sem que nada visível a sustenha ou suspenda: &  &   
V. t. d. 
 2. Erguer, como nessas experiências: &   
  Estória: corruptela de história. Foi uso comum nas décadas de 1970 a 1990, pela semelhança do inglês story (em contraposição à history), e chegou a ser dicionarizado pelo Aurélio. Atualmente foi removido deste dicionário, e não faz parte da língua oficial.

Tuesday, February 13, 2024

Ondas gravitacionais, ondas afetivas

 isso parte de uma experiência / revelação à beira de um lago / praia fluvial, cuja superfície estava parada tipo espelho e meus movimentos produziram ondas que se propagaram  pela superfície contra a corrente, enquanto a corrente seguia seu curso com vigor (na praia fluvial da Ratoeira).

Da mesma forma que foram necessárias muitas décadas para se confirmar a previsão das ondas gravitacionais, que de certa forma "comunica" (ou interconecta) grandes distâncias dimensionais, agora se apresenta a conexão entre os seres humanos na forma das ondas afetivas, que procedem de cada ser humano e se espalha ao seu redor, informando, interagindo, refletindo e amplificando as ondas afetivas presentes no ambiente.

Teria ainda toda a parte ligada à antroposofia e à ciência espiritual a desenvolver. Aqui ficaremos somente nos conceitos da ciência dita convencional.

As emoções individuais causam "pressão" como ondas de choque no ambiente onde os seres humanos se encontram. Essas ondas, apesar de extremamente sutis, são percebidas pelos demais seres humanos, de forma consciente ou não (pois se somam como informações adicionais aos demais modos de percepção, como visão, audição, sugestão, etc).

Apesar de ainda ser necessário maior investigação acerca do "espectro" dessas ondas de choque, pode-se considerar que uma parte extremamente sensível desse "espectro" tem como mediador principal o medo individual. O medo, dentro dos processos psico sociais de cada pessoa, integra componente universalmente reconhecido por talvez todas as formas animais da terra (ao menos o que se diz como "as formas superiores", como vertebrados, mamíferos, etc), e se recombina interiormente em cada indivíduo com seu próprio espectro (?seria possível o paralelo com as "raias" espectrográficas individuais das estrelas? Ou o desvio para o vermelho nas distâncias luminares?).

Dentro da camada cultural contemporânea, o medo encontra outro componente coletivo de grande relevância na composição do espectro individual, que manteremos a denominação de amor, mas que pode ser ampliando para um conceito similar aos afetos espinosanos do "alegrar" e "entristecer". Esse amor emana essencialmente a qualidade de atração e repulsão para as "frequências espectrais" que o ser envia ao ambiente (talvez comparável à fase da onda - v. AM/FM, mas demanda aprofundamento de conceituação e/ou analogias mais variadas para evolução conceitual).

Aqui chegamos ao ponto onde a imagem se encaixa no quadro geral da sociologia do risco: o risco como conceituado aqui, é o principal mediador do medo como fator gerador das ondas afetivas. O risco afeta, pelo menos a forma, a amplitude, o foco e a direção, talvez entre muitos outros aspectos, as ondas afetivas lançadas ao ambiente humano.

O risco, como elemento social que é, participa na codificação e na decodificação dos constituintes espectrais dentro de sua área de abrangência, e com todas as interferências ambientais passíveis de interpretação pelos seres humanos, tanto ao nível biológico, como em toda e qualquer camada psico sócio antropológica que possa ser enquadrada como linguagem (será esse o termo?).

Por fim para agora, as ondas afetivas, mediadas de forma reptiliana pelo risco, atuam em cada indivíduo como pressão de medo / controle, bem como, recombinado, como fator de união interessada (defesa comum, associação contra facção contrária, proteção paga, etc) ou como mola de construção afetiva-cognitiva (mundo melhor, ética a respeitar ou modificar, etc)

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Carta para um ex-amigo

Sofrimento... a polarização política que assistimos nos últimos anos e que teve seu episódio mais recente nas eleições de outubro/2022 (Lula derrotando Bolsonaro por uma margem mínima de votos) contém um pesadelo. Sob qualquer ângulo que se escolha, será um pesadelo. Que ainda terá desdobramentos, em sua qualidade de pesadelo (social, coletivo e alguns mais, como pretendo evidenciar a seguir)

Eu considero que tive um grande privilégio por não ter convido localmente sob a presidência Bolsonaro. Morando em Portugal durante todo esse mandato, acompanhei o desenrolar das coisas pela mídia internacional, pelos canais sociais, e pelos contatos dos amados que conheço e respeito, e que ficaram no Brasil, vivendo esses anos duríssimos. Desta forma também não tive muitas oportunidades de contato com quem havia votado em Bolsonaro em 2018. Desde sempre meu lado era claro: esse então candidato declarava abertamente apoio a um torturador, e dos conhecidos por ser dos mais atrozes e cruéis. 

Aqui já está reiterado meu lado, mas insisto: para mim é absolutamente insuportável, sob qualquer circunstância, apoiar um torturador. Menos ainda para me representar para qualquer coisa que seja. Torturador é torturador e precisa ir a julgamento sério – coisa que o Brasil ainda nunca fez (e que tenho esperança que esse dia não tarde). 

Assim, aos meu conhecidos que votaram em Bolsonaro em 2018 fica minha declaração de decepção completa e absoluta. E de nenhuma intenção de voltar a ter qualquer contato até que essa realidade esteja superada, ou seja, que o assunto tortura seja encarado frontalmente comigo e que se argumente com seriedade, consistência e lógica (e, claro, com sensibilidade humana) como você pode apoiar uma pessoa que tem um torturador emérito como ídolo declarado. Sem isso não há nenhuma chance a vista para reaproximação afetiva

Em 2022 travou-se uma batalha entre a continuidade do projeto de Bolsonaro, já depois de um mandato que teve uma pandemia de covid19 no meio, caos na saúde, casos de vacina ainda a ser investigado, a reunião ministerial de “passa boi passa boiada”... E mortes, muitas mortes que poderiam ser evitadas. Daqui de Portugal (onde não houve nenhuma morte de conhecido meu), acompanhei com horror a morte de vários amigos próximos, alguns primos e muitos conhecidos. Em agosto de 2021 fiz a última contagem desses conhecidos diretos que haviam morrido pela covid, e somaram, os amigos meus e de minha companheira à época, 86 pessoas que relembramos pelo nome, com pesar e tristeza infinita, não apenas pela pandemia, mais como essas mortes se deram. Mas isso é, no quadro geral, pequeno, se comparado com os descaminhos por atacado do período.

O problema que resta de forma inequívoca será então como faremos, enquanto sociedade, para reencontrar o caminho das informações que sejam confiáveis e que possam de alguma forma substanciar qualquer debate que tenha como propósito reduzir essa polarização.

[nota: originalmente esse texto tinha uma pessoa específica como destinatário, mas que ao construir o texto, percebi que não aconteceria essa remessa. Daí virou esse post aqui. O fato motivador foi um audio que recebi em resposta a uma sugestão de apoio às apurações sobre tentativas de golpe de estado após as eleições de 2022, que elegeram Lula. Abaixo transcrevi de forma documental o audio recebido, para que me lembre as formas argumentativas e os argumentos mesmos que me motivaram]

-início de transcrição-
... essa matéria... a princípio você veio com uma matéria que era sobre eleições em nosso país, né? E que é um troço que pega muito na veia... a gente vai falar sobre isso...

E aí você veio com esse assunto que... assim: toda vida importa, não é cara? Claro que importa. E o mundo está cheio de mazelas... e essa mazela está um pouco longe da nossa realidade, do Brasil

E ai eu perguntei o que é isso porque você veio com um outro assunto primeiro que foram as eleições em nosso país, e isso foi muito punk... eu fiquei surpreso de você achar... enfim, apoiar Lula.

Eu aprendi com você a gostar da Petrobrás. E foi a primeira empresa que ele arrebentou. Inclusive, nessa primeira semana de governo, só os “falar” dele, a Petrobrás teve um prejuízo na bolsa que dava para bancar seis anos de bolsa família.... é uma coisa de louco...

Quando você me mandou aquela mensagem eu pensei “não sei o que ele tá vendo de lá...” porque nossa imprensa aqui já era, velho! Foi totalmente corrompida. A Globo perdeu a concessão desde o ano passado e logicamente que o Bolsonaro não ia renovar porque ela tem uma dívida imensa com o Estado. A Globo, entre aspas, funcionava como uma estatal, não é amigo? O governo que bancou sempre aquela onda toda e sempre teve uma dívida muito grande, então ela resolveu apoiar o cara... então as coisas que estão acontecendo aqui, a grande mídia não fala, ou não dá a devida importância, quando não distorce.

Amigo, a situação do país está muito esquisita... Primeiro porque esse cara nunca poderia ser presidente porque ele é um réu condenado em 17 processos, por 19 juízes, em todas as instâncias. Então, logicamente o sistema fez uma manobra para recolocar ele no lugar.

E aí é complicado, porque com isso tem que calar pessoas. Hoje em dia nós temos presos políticos: temos artistas, temos jornalistas, temos deputados... e até um líder xavante, preso... Nenhum deles tem direito à defesa, porque os advogados não tem acesso aos processos... processos que não existem, ou são ilegais...

Então é isso, cara... Eu não sei... o rumo está muito esquisito, tá uma... pra gente que era criança e que viveu sob uma ditadura, a ditadura agora é civil: as pessoas estão sendo cassadas, a imprensa está sendo calada... e é isso! Sinceramente amigo, o negócio aqui está muito esquisito.
Não sei as notícias que você recebe, mas parece que não são as mesmas que eu sobre o que está acontecendo em nosso país..

-fim da transcrição-


Sunday, December 3, 2023

Secos e molhados na minha vida (para Gabriel)



ahh, a vida
ahh, a arte
ah, a música
ah, as memórias
ah, a história....

ahh, a vida...

a gente chega, vê um monte de coisas (ou não vê quase nada), e nem sabe que o que está vendo vai virando memória, a nossa e a dos outros, os próximos e os nem tanto... E daí, de repente - ou não - as histórias (e lembranças) já vão se entrelaçando, furtivamente, semeando e regando o futuro, os possíveis, os viáveis, os futuros, o nosso, o dos outros, o mundo... 


ahh, a arte

talvez a arte seja a cola mais social dessa construção do futuro, dessa ponte entre o ontem e o amanhã que, misteriosamente, constrói os laços e nós que resultam na trama do hoje... E o tal do "fazendo arte", do qual eu muito fui acusado quando guri, veja você, na diferenciação que minha mãe, afetuosa e generosa, muito me mostrou entre o artista e o arteiro, o cartista e o carteiro, o político e o colítico, o objeto e o abjeto... 


ah, a música

que força de transformação, que gostoso que é a tua existência, que lindeza cada instrumento, cada nota, notação e timbre, que profundidade em nossa vida, que presença em cada canto do que podemos chamar de cultura..... e a voz! A voz... a minha, a tua, a de todos e da cada um. E a do Ney, não é?


ah, as memórias

"voz divina do ney" (Nelson Mota), "Dias Gomes era considerado um subversivo pelos militares..." (Ney Matogrosso) "eu confesso pra você, como sempre confessei, que achei (o nome "secos e molhados") não só um horror, como muito estranho". "O próprio Ney reclamou comigo, me dizendo: -ora, o Gerson (Conrad) parece que não sabe direito se fica ou se vai, se vai ou se fica..." João Ricardo. "Até então nós já tinhamos mandado uma fitinha nossa para todas as gravadoras, que sequer ouviram" (Ney). Eu tinha dez anos imitando o Ney rebolante, feliz e envergonhado ao mesmo tempo, cantando num cabo de vassoura a Rosa de Hisoshima, sem saber direito sobre o que se tratava... e...

..."e o Vinicius me pegou no braço e me falou assim, menino - com os olhos cheios de lágrimas - se você não tivesse resgatado esse poema dessa antologia, eu morreria frustrado, porque eu estou esperando por esse momento há muitos anos..."


ah, a história....

o quanto isso transformou o momento, a vida deles, a nossa. O impacto, por exemplo, da imagem do grupo, mas também de tudo o que aconteceu naquilo, por aquilo, com aquilo...

Possíveis interpretações sobre toda história e suas fabulações, vejo a liderança talvez meio rude do João Ricardo, seu perfil meio visionário e bastante obtuso em sua própria obstinação

E hoje, de minha parte, vendo o quanto de Portugal tem dentro desse disco, vendo o quanto o momento faz parte da minha própria história, revejo a história, as histórias, a estória, e mesmo a escória que sempre fica de cada história, na recriação mesmo das todas as histórias, não é...?

E na história fica, materializado, nessa obra, que sugiro seja ouvida com carinho e emoção, em cada faixa, cama acorde... Acorde:

Lado 1
N.ºTítuloCompositor(es)Duração
1."Sangue Latino"  João Ricardo/Paulinho Mendonça2:07
2."O Vira"  João Ricardo/Luhli2:12
3."O Patrão Nosso de Cada Dia"  João Ricardo3:19
4."Amor"  João Ricardo/João Apolinário2:14
5."Primavera nos Dentes"  João Ricardo/João Apolinário4:50
Lado 2
N.ºTítuloCompositor(es)Duração
6."Assim Assado"  João Ricardo2:58
7."Mulher Barriguda"  João Ricardo/Solano Trindade2:35
8."El Rey"  Gérson Conrad/João Ricardo0:58
9."Rosa de Hiroshima"  Gérson Conrad/Vinicius de Moraes2:00
10."Prece Cósmica"  João Ricardo/Cassiano Ricardo1:57
11."Rondó do Capitão"  João Ricardo/Manuel Bandeira1:01
12."As Andorinhas"  João Ricardo/Cassiano Ricardo0:58
13."Fala"  


"e, daí, a coisa mais grave (pra mostrar na TV): e esse olhar...?" (Ney)



Referências:
https://www.youtube.com/watch?v=S_F-o0nH20M&t=1s
https://www.youtube.com/watch?v=LJv_S9BxWr4 
https://youtu.be/LJv_S9BxWr4?si=3ZdTcl2Y5Lu7OwC8
https://pt.wikipedia.org/wiki/Secos_%26_Molhados_(%C3%A1lbum_de_1973)

e ainda a gratidão aos criadores disso tudo, com menção a mais ao Zé Rodrix

 


Tuesday, July 18, 2023

correria

antigamente usava-se mais frequentemente a palavra correria. De vez em quando era uma correria danada, e em seus usos mais comuns tinha duas acepções: para denotar pressa em aprontar algo ou para se referir a uma fuga. Parece que atualmente, lá como cá, tanto uma acepção como outra se inseriram de tal forma no cotidiano que a palavra largou esses significados pelo caminho, como que despojos de uma fuga com pressa. (aliás: toda fuga acontece com pressa?)

Lembro da primeira vez que escutei o som de um tiro na rua, lá pela década de 1980 ou 90, quando a violência urbana começou a se espalhar em definitivo por todas as áreas da cidade do Rio de Janeiro. Naquele tempo, pasmem, não era comum as pessoas falarem sobre armas e o povo brasileiro era tido como pacífico, apesar das intensas violências do submundo da ditadura torturante que alguns, hoje, paradoxalmente, admiram e pedem o retorno. 

Depois o som dos tiros começou a ficar cada vez mais comum, até meio que se incorporar aos sons usuais da cidade. Deve ter contribuído para essa minha sensação o fato de eu ter me mudado para perto da famosa favela do morro de D. Marta, no período da disputa entre facções (Cabeludo x Ananias, eu acho...), numa incrível geografia em que essa favela se posiciona (e ainda é assim) colada ao terreno onde estava (e ainda está) a residência do prefeito daquela cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. A trilha sonora, perfeita para esse tempo é do Gilberto Gil: "Nos barracos da cidade", onde "ninguém mais tem ilusão no poder da autoridade, que se pode não faz questão, e se faz questão não consegue controlar o tubarão".

Lembro também da primeira vez que vi de onde vinham os disparos: circulando de carro pelas ruas do bairro de Santa Teresa um policial disparava, não sei para onde, com uma expressão relativamente tranquila, eu diria como quem caça passarinho. "Acertei? Nem sei..." Entre esses eventos houve também alguns "espetáculos" das balas traçantes, fenómeno tecno-midiático-militar-criminoso que divertia o horror social de uma quantidade insana de tiros, pela beleza coletiva das linhas vermelhas dirigidas aos céus. Dava até gosto de ver....

Aqui na Europa parece que eles preferem os tiros mais concentrados nos tempos das guerras que fazem regularmente entre os povos. Daí que agora é na Ukrania, ainda pouco era no Kossovo, Tchechênia... um pouco antes por toda a Europa na segunda guerra mundial (esse mundial já denota um eurocentrismo fantástico, né não?)

....

A correria segue, parece que cada vez mais incorporada ao processo do cotidiano. Daí sobra a deixa pra poesia de Drummond (1938):

"Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva. 
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição 
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

O poema completo, na voz de Caetano Veloso (e seus comentários):
https://www.youtube.com/watch?v=AqNjbqQwOzE

também, e recomendo, alguma coisa de Vinicius, aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=Ig0wlf4jJ9Q

... e isso tudo, sem correria....

Wednesday, May 10, 2023

(novas) relações

 que grande mistério são as relações humanas, não? ou não...

Particularmente eu gosto dos mistérios. E também, e muito, das relações humanas. Nem todas, é claro, apesar de acreditar que conheci algumas poucas pessoas que genuinamente gostavam de todas as suas relações humanas pessoais.

As relações humanas que pretendo tratar aqui são mesmo aquelas que tentamos que nos sejam as mais próximas, escolhidas por nós, mais frequentes no que se refere ao contato e, consequentemente, as mais profundas. Se enquadram no namoro, no trisal, nos contemporâneos de ficante regular, enfim, no que convencionalmente chamamos de casal. Usarei mesmo o termo casal, apesar da certa implicância que tenho ele, muito provavelmente pela implicância profunda que tenho com o "casamento" enquanto modelo (tipo ideal) de relação entre duas pessoas na sociedade em que vivemos.

Certamente há muito estudo sobre o que vou dizer. Profissionais e escritores se dedicaram e se dedicam há muito sobre o tema. Confesso que não tenho nenhum lastro para referenciar, mas entendo que há temas e áreas do conhecimento que todos os indivíduos devem ocupar seu lugar de fala até o limiar de suas percepções (eg, saúde), de forma que, por estar dentro do campo das relações de casal já há bastante tempo, vou emitir um ou dois pitacos que tomara sejam úteis para você que lê, assim como são para mim, como forma de organizar melhor meus pensamentos e minhas atitudes nas relações humanas.

Deve haver algum estudo sobre o ciclo das relações de casal. Se houver, acredito que haja um padrão mais ou menos regular. Minhas observações pessoais a respeito consideram um universo muito pequenino em consideração. Mesmo assim, acredito que dá pra ter uma noção geral sobre a regularidade que costuma acontecer na grande maioria dos ciclos, especialmente nas fases iniciais, ou seja, 

  1. travar conhecimento (como vocês se conheceram?)
  2. se interessar (aquela pessoa é legal, gostei!)
  3. demonstrar interesse (toda a gama dos jogos de sedução, de parte a parte)
  4. propor algum tipo de interação (ainda na sedução, e atualmente pode ser muito variado esse cardápio)
  5. primeiros momentos (aqui se inicia a complexidade e variabilidade, que não me proponho a aprofundar; digamos que esses seriam usualmente os cinco ou dez primeiros encontros, o que incluiria a emissão de frases que indicam simbolicamente o que cada tem em mente no que se refere àquela relação)
  6. "sequencia da franquia" (até onde vai essa relação? Será duradoura? Será prazeirosa para ambos? Ou pelo menos minimamente honesta?)
Tudo isso estruturado, o que me fascina nesse momento são os movimentos que irão fazer o que chamei de "sequencia da franquia" se estabelecerem socialmente. Esclarecendo: o casal é visto por seus pares na sociedade, como sendo representante de algum "tipo ideal" de relação (eg, namoro, casamento, noivado, caso, pegação, amante, etc). Não está muito claro para mim os mecanismos que acontecem dentro das relações e que são usados como símbolos e representam socialmente esses laços. 

Porém nesses momentos ocorre a necessidade de rearranjar os compromissos internos do casal, de forma a acomodar um leque enorme de variáveis em uma visão, digamos, de longo prazo. Para evitar algum mal entendido, e para buscar que você siga comigo, vou tirar do nosso horizonte de análise tudo aquilo que chamo, pelos conceitos do Zygmunt Bauman, dos amores líquidos e sua inegável tendência desses tempos. Me refiro às relações onde cada um tem seu próprio espaço e não pretende oferecer à nenhuma outra pessoa individualmente nenhuma forma de relação estável; "a gente fica junto quando quer, se ama, mas deixa que cada um escolha seu caminho; se o outro viajar, 'segue a vida', 'a fila andou'", etc. 

Tendo removido esse grupo, agora sobram os casais e os que estão tentando formalmente alguma alternativa a isso, certo? São esses que vivem os momentos de sedimentação das novas condições entre o ontem e o amanhã, mas que tem numa certa fantasia de parte a parte um elemento que é fundamental para a coesão (e coerência) da relação,

Como seguir encantado depois que a gente descobre os truques que todos nós utilizamos repetidamente? Como abrir mão dos nossos truques (e traques!) em prol de uma relação mais próxima e saudável? E principalmente: como realinhar as expectativas das conquistas individuais com as conquistas coletivas, com a necessária regularidade, acolhimento e motivação que podem trazer coesão e coerência para um casal?


texto em construção! abaixo as referências que gostaria ainda de colocar

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Cristóvão Bastos:

Nilton Bonder