Friday, August 28, 2020

Origem, função e fundamentação do apego: o caso covid-19 (parte 1: antes da covid)

 Bem, com um título destes e toda a pretensão que pode emergir, fico com o desejo de enfrentar o problema com as ferramentas que disponho. E declaro de partida, para compartir com todos! Gracias Thiago de Mello e seu belíssimo poema (1).

Na gênese deste post emerge a vontade de compreender e partilhar a minha percepção particular das diferentes condições sociais relacionadas neste preciso momento com a covid-19. Em outras palavras, animado pelas conversas com duas pessoas que respeito imensamente e tem sido valiosos interlocutores em muitos aspectos da vida, penso que diversos grupos sociais mundo afora tem a compreensão de que "a pandemia de covid-19 já passou" (2).  Meu interesse deste momento é buscar uma visão não polarizada sobre os mecanismos principais que podem ser até certo ponto generalizados como "construção social". Aqui também declaro que não estou disposto à aceitar as simplificações já sedimentadas, que por sua vez já atuam como fatores de catalização destas próprias generalizações, sejam elas o poder da mídia, das redes sociais, os fatores de classe, ou até o próprio cachorro correndo atrás do próprio rabo do bozoXlula. 

Por favor, veja bem: eu reconheço todos estes fatores, seus imensos poderes e compreendo as explicações que se originam daí. Mas chamo a carta da tese 11 em modo de defesa para tentar buscar uma via de propagação transdisciplinar e humana para um discurso e debate compreensível a quem quiser (será possível?).

Antes da covid:

Nossas relações são cheias de fatores que podem promover apego. De partida quero destacar o poder  como fator das relações, e que, de maneira reflexiva e insidiosa, diverte o apego.

Nesta jornada vou trazer como primeiro elemento de dissecação -ui!, ou melhor, método de análise, os componentes da semiótica de Pierce - vou sumarizar, não é necessário conhecimento prévio, apesar de recomendável: 

Numa das correntes da criação da semiótica, o estadunidense C.S. Pierce (1839-1914) busca uma estrutura que possa se encaixar no nosso formato de pensamento e percepção do mundo. Numa simplificação perigosa de minha parte, segue o foco (recomendo o livreto "O que é Semiótica", coleção primeiros passos, da autora Lucia Santaella). Após muitos anos de elaboração (que período histórico rico), ele chega aos conceitos de:

  • Primeiridade: experimentação e contato com o mundo, percepções, sensações e sentimentos
  • Secundidade: o confronto e a luta da percepção e da ação, "sem o governo da camada mediadora da intencionalidade, razão ou lei"
  • Terceridade: a camada da consciência onde representamos e interpretamos o mundo. 

Que aqui seja o espaço de debate sobre a semiótica, o poder ou o apego, ao invés de me preocupar, mais me alegra a possibilidade do debate. Até porque o ponto de partida para o encaixe semiótico mencionado acima para qualquer deste três pode ser igualmente rico e frutífero. Entretanto me atendo ao que desejo como pontapé de partida, destaco que cada pessoa e cada grupo social que tenho contato demonstra uma forma de reação peculiar relacionado ao confinamento, à possibilidade de contágio (e perdas relacionadas), em contraponto ao tempo já passado. Aqui emerge importante fator de diferenciação social pelas sociedades, países e grupos sociais, posto que o impacto desta pandemia já se mostra bastante diferenciado.

E para finalizar este post, reitero meu desejo: buscar um debate sobre como é percebido, configurado e depois declarado pelas pessoas a definição sobre a covid-19 de que "a pandemia passou", sob todo e qualquer aspecto que se ofereça, seja esta declaração presente ou futura.






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1. https://blogdaines.wordpress.com/2015/12/20/para-repartir-com-todos-do-poeta-brasileiro-thiago-de-mello/

2. sei que aqui tem uma enorme brecha para debate, e estou aberto para sua colaboração, qualquer que seja realizada com respeito e vontade de contribuir genuína.