Wednesday, March 13, 2024

Presente dois, presente sete!

Na vida faróis, uns pra frente, outros pra trás, como diria o xará Pedro Nava. E como na analogia, faróis são dois, como nossos olhos.

Pedro também, como meu pai, e muitos outros com quem partilho nome forte, histórico, bíblico e... confuso! Ao menos na minha cabeça -de criança, ao ter que confrontar todas as raivas que ao pai se destilava (deste-lado?), e que, pelo nome me esbatia, estabanava, estrouvava, como se diz por cá.

O primeiro farol do caminho tinha também uma caminha que me acolhia: irmã mais velha com responsalidade de sobra, cabeça no lugar e fome de viver como poucos. Aliás, não só de viver, mas também uma imensa fome de justiça e correção, de equilíbrio e de conhecimento, e certamente outras tantas que nem sei dizer, não sei se ví. Vi, alias; vi, ví e vivi... Há uma gratidão tão grande aqui que as vezes até me assusta pelas construções de significados tão amplos, diversos e enigmáticos. Exatamente contigo aprendi ainda a buscar os sentidos materiais da existência. Daí que, sempre que me encontro com mistérios que me parecem muito profundos e enigmáticos, me assusto cadim novamente...

Em seguida outro farol potente e iluminado, arca de tantas expectativas alanhadas, e que, quase sempre, as ultrapassou com folga... Raciocínio matemático, matemágico, conexão causal bem estabelecida, desafios ininterruptos na sua própria busca pelo caminho, que, pelo caos da existência nem precisava de mais gente pra atrapalhar. Mas tinha bastante. Competência de realização, realizações amplas e rápidas, me mostrou que o caminho tem sim um lado do mérito, que deve ser respeitado, que pode ser realizável - e que cobra seus preços. Mostrou também que essas conquistas precisam estar alinhadas com o coração. E que esse alinhamento é dos mais difíceis para qualquer pessoa - ainda que seja menos difícil para uns do que para outros, pois afinal, o que tratamos aqui são as relações. E relação acarreta contato. E "se há contato, há atrito!"

Por contraste, sigo pelo contraste das idades: quando pequeno eu dormia num quarto com o irmão imediatamente mais velho do que eu - ainda que já houvesse aqui quatro anos de diferença. Foste meu primeiro exemplo a seguir: introspecção e alegria interna, compromisso consigo próprio sem egoísmo, leitura absorta e planos infalíveis autossuficientes... Sempre escutei de ti, antes de qualquer outro, a visão da vida que o futuro confirmaria. Amigos fartos, (sempre os melhores!), admiradores e respeitosos, alegradores dos ambientes, sempre coletivizadores, como tu. São tantos a nomear, que vou escolher somente um, como símbolo daqueles muitos: saudades de Eduardo, lindo e admirado por homens e mulheres, sorrisão e alegria de viver.... Em um episódio de minhas memórias, quando assisti tua queda do paraíso (12 metros medidos!) e saíste ileso num inacreditável espaço justo entre megalitos... Em seguida, exatamente com Eduardo, foste navegar alegre e misterioso pelas brumas de um avalon que já não existe mais. Saudades de não poder mais revisitar isso junto contigo e com Eduardo, escutando aquela boa e sonora risada, entre os outros muitos bons amigos...

Meu primeiro herói é uma pessoa que mudou muito com a vida - e foi mudado por ela. Sorriso fácil, encantamento infinito pelo mar e pelo bem, parceiro e lealdade para toda a vida, me ensinou a confiar. Assim, só: confiar. Contigo voei alto, caí, sobrevivi, voei de novo. Assim! Se não tivesse sido assim, talvez nem fosse. Mas foi. E histórias pra contar. Na minha casa de origem sempre teve material para leitura para todas as idades (viva por mais isso, Marilita!). Mas história contada, aprendi a gostar contigo. E sigo contando até hoje, numa "soberania na noite neon" que abre espaço pra tocar junto, rir até gargalhar e ficar nas lembranças todas sem sofrer.

Depois, enigmas. Complementariedades sobre contrariedades. Semelhanças em cabimento, aparências que se sobrepunham pela altura, disputa acirrada... Se a idade me aproxima de uma, a afetuosidade, da outra. Amigos e obstinação, uma e outra. Nem sei se é justo unir essa combinação em um texto único, mas a proximidade geográfica de longa duração (que já não há) me fez ver alguma coisa de proximidade dentro de mim, que penso que ainda necessito elaborar. E laborar. A gente nunca sabe precisamente o que a infância legou em nossas convivências. Mas poder assistir outras convivências, a mim, ajuda a elaborar. E aqui há fartura, sempre houve. Partilhar amigos, talvez roupas, talvez sapatos. Saber receber, acolher, saber brigar. Brigar mesmo sem saber, dividir banquinho, choratório, biscoito bis, pavê de chocolate, quindim, festa de aniversário. Conferir nota de compra, pegar cocacola no draivin, fantágua, suflê de cenoura, café com leite negado, corre cada um prum lado, bicicleta, tio Júlio, Socorro!... Muitas memórias do dia a dia que fazem como que uma base que dá sentido para as aventuras do de vez em quando. Dividir o que parecia pouco, mas que sempre foi o suficiente. Fazer o pouco virar muito, sobrar. Sobrar marilita, tão pouca, tão farta, tão verdadeira em suas próprias confusões. E nas minhas... Pronto, achei o que procurava, aqui nesse bafo da onça de meu coração: vocês me trazem mamãe em sua complementariedade, contrariedade, bondade e enormidade de coração. É bom fazer o bem. Quer menos...?

Duas almas ainda se juntaram no caminho da fraternidade, o povo do W: Walter e Oswaldo me mostraram que ser irmão é também construir: com alegria pela presença, com afeto, vontade e respeito. Com limite, briga e algum excesso. Com contraste, sem traste, traste... E triste... Hoje triste pela ausência de vadinho, alegre pela presença de walter. Conquistar corações e mentes por caminhos distintos dos de irmãos de pai e mãe. Conquistar meu coração e minha mente, mostrar que sempre cabe mais um nisso tudo -para além da marilita, é claro!- sendo diferente dela, sendo homem na lide, sendo frágil na luta, sendo forte na presença. Como uma cola de argamassa, vocês me presentearam com a matéria de observação que interliga o dentro e o fora, sem descontinuidade. Como uma solda. Solda bem feita que só fui aprender a fazer com vocês dois, cada um ao seu jeito. 

Gratidão!

2 comments:

  1. Obrigada, Pedrinho, por mostrar que a pedra do nome pode pesar, mas aprende a dosar as arestas sem perdê-las. Descobriu que também pode ser espuma, fogo, água suave e brisa que afaga. Tudo ao mesmo tempo! Curiosidade infinita, conversas intermináveis, flauta na varanda e vizinhos felizes com a música. O teu dia, dado de presente para nosotros, coisa boa! Feliz teu aniversário para todo o mundo! Vi.

    ReplyDelete
  2. Couve é bom. Laranja também. E farofa fresquinha, hein? Com perdão dos veganos, tem ainda cada ingrediente, paio, linguiça, carne seca, lombo, costela, feijão e por aí vai. Até que junta uns temperos, refogados, tempo de panela e tudo junto e misturado fica rico e gostoso. Às vezes sai mais carregado no sal ou na pimenta, o que sempre dá pra ajustar com uma caipirinha de boa cachaça ao lado.
    Aí chega o Pedrinho e mostra que isso é uma bela feijoada!
    Obrigado, mermão!

    ReplyDelete

Por favor seja razoável em seus comentários: evite grosserias, rudezas e coisas assim.
Na dúvida, lembre-se que gentileza gera gentileza, e, parafraseando prof Cortella, também gente lesa gera gente lesa!