Sunday, December 3, 2023

Secos e molhados na minha vida (para Gabriel)



ahh, a vida
ahh, a arte
ah, a música
ah, as memórias
ah, a história....

ahh, a vida...

a gente chega, vê um monte de coisas (ou não vê quase nada), e nem sabe que o que está vendo vai virando memória, a nossa e a dos outros, os próximos e os nem tanto... E daí, de repente - ou não - as histórias (e lembranças) já vão se entrelaçando, furtivamente, semeando e regando o futuro, os possíveis, os viáveis, os futuros, o nosso, o dos outros, o mundo... 


ahh, a arte

talvez a arte seja a cola mais social dessa construção do futuro, dessa ponte entre o ontem e o amanhã que, misteriosamente, constrói os laços e nós que resultam na trama do hoje... E o tal do "fazendo arte", do qual eu muito fui acusado quando guri, veja você, na diferenciação que minha mãe, afetuosa e generosa, muito me mostrou entre o artista e o arteiro, o cartista e o carteiro, o político e o colítico, o objeto e o abjeto... 


ah, a música

que força de transformação, que gostoso que é a tua existência, que lindeza cada instrumento, cada nota, notação e timbre, que profundidade em nossa vida, que presença em cada canto do que podemos chamar de cultura..... e a voz! A voz... a minha, a tua, a de todos e da cada um. E a do Ney, não é?


ah, as memórias

"voz divina do ney" (Nelson Mota), "Dias Gomes era considerado um subversivo pelos militares..." (Ney Matogrosso) "eu confesso pra você, como sempre confessei, que achei (o nome "secos e molhados") não só um horror, como muito estranho". "O próprio Ney reclamou comigo, me dizendo: -ora, o Gerson (Conrad) parece que não sabe direito se fica ou se vai, se vai ou se fica..." João Ricardo. "Até então nós já tinhamos mandado uma fitinha nossa para todas as gravadoras, que sequer ouviram" (Ney). Eu tinha dez anos imitando o Ney rebolante, feliz e envergonhado ao mesmo tempo, cantando num cabo de vassoura a Rosa de Hisoshima, sem saber direito sobre o que se tratava... e...

..."e o Vinicius me pegou no braço e me falou assim, menino - com os olhos cheios de lágrimas - se você não tivesse resgatado esse poema dessa antologia, eu morreria frustrado, porque eu estou esperando por esse momento há muitos anos..."


ah, a história....

o quanto isso transformou o momento, a vida deles, a nossa. O impacto, por exemplo, da imagem do grupo, mas também de tudo o que aconteceu naquilo, por aquilo, com aquilo...

Possíveis interpretações sobre toda história e suas fabulações, vejo a liderança talvez meio rude do João Ricardo, seu perfil meio visionário e bastante obtuso em sua própria obstinação

E hoje, de minha parte, vendo o quanto de Portugal tem dentro desse disco, vendo o quanto o momento faz parte da minha própria história, revejo a história, as histórias, a estória, e mesmo a escória que sempre fica de cada história, na recriação mesmo das todas as histórias, não é...?

E na história fica, materializado, nessa obra, que sugiro seja ouvida com carinho e emoção, em cada faixa, cama acorde... Acorde:

Lado 1
N.ºTítuloCompositor(es)Duração
1."Sangue Latino"  João Ricardo/Paulinho Mendonça2:07
2."O Vira"  João Ricardo/Luhli2:12
3."O Patrão Nosso de Cada Dia"  João Ricardo3:19
4."Amor"  João Ricardo/João Apolinário2:14
5."Primavera nos Dentes"  João Ricardo/João Apolinário4:50
Lado 2
N.ºTítuloCompositor(es)Duração
6."Assim Assado"  João Ricardo2:58
7."Mulher Barriguda"  João Ricardo/Solano Trindade2:35
8."El Rey"  Gérson Conrad/João Ricardo0:58
9."Rosa de Hiroshima"  Gérson Conrad/Vinicius de Moraes2:00
10."Prece Cósmica"  João Ricardo/Cassiano Ricardo1:57
11."Rondó do Capitão"  João Ricardo/Manuel Bandeira1:01
12."As Andorinhas"  João Ricardo/Cassiano Ricardo0:58
13."Fala"  


"e, daí, a coisa mais grave (pra mostrar na TV): e esse olhar...?" (Ney)



Referências:
https://www.youtube.com/watch?v=S_F-o0nH20M&t=1s
https://www.youtube.com/watch?v=LJv_S9BxWr4 
https://youtu.be/LJv_S9BxWr4?si=3ZdTcl2Y5Lu7OwC8
https://pt.wikipedia.org/wiki/Secos_%26_Molhados_(%C3%A1lbum_de_1973)

e ainda a gratidão aos criadores disso tudo, com menção a mais ao Zé Rodrix