Saturday, June 12, 2021

despedidas...?

Uma querida amiga, vendo novas fotos minhas, de recantos que estou descobrindo na paisagem desocupada da serra da estrela, captou uma atmosfera daqueles momentos fotografados (melancólica, talvez?), e perguntou-me se eu estava a me despedir da serra, pois que eu me mudo daqui algumas semanas...

A sensibilidade e a proximidade que sinto com ela me emociona. Mais não fosse, a observação que de quem percebe e tem delicadeza de notar a emoção da gente, mesmo distante, é sempre um vínculo que se reforça, né? 

Porém eu quero buscar os sentidos (e os meus sentidos) de despedida. Em primeiro lugar, pela experiência recente de vender à distância a minha morada anterior sem me despedir dela de uma forma mais convencional, e também ao contar quantos endereços já tive na vida até agora, impossível não notar que estou regularmente a me despedir dos locais... Não tenho como dizer se eu vivencio mudanças de endereço mais do que o normal, ou se este recorte (nômade, pode ser?) talvez seja um importante fator de similaridades sociais: uns se movem menos na vida enquanto outros se movem mais, entre as muitas razões que consigo imaginar, tanto para um grupo como para o outro...

Em segundo lugar, penso que estou sim, num processo até certo ponto consciente, fazendo umas despedidas neste momento. A parte consciente busca despedida às pessoas que algum tipo de vínculo criamos por aqui. Mas isso está se mostrando bem fora do usual, tanto pela covid19 e suas restrições (mesmo que agora somente parciais por aqui), mas também pelo fato de que os vínculos afetivos destes últimos 15 meses de pandemia terem sido submetidos à provas e mudanças muito malucas, que ainda irão nos impactar por muitos anos. 

Depois, e talvez o mais profundo aqui, seja a crueza das despedidas que tantas mortes pela covid19 forçou, havendo ou não o momento da despedida. Porque de certa forma é isso, né? A despedida tem um momento que é interior, que a gente se despede de alguém ou alguma outra afetividade que aparentemente não irá mais se reencontrar... E quando há reciprocidade neste momento, então aí mesmo é uma despedida no sentido mais corrente que chamamos de despedida entre pessoas.

Voltando então para meu processo de despedida da serra da estrela, duas avenidas se abrem: com relação às pessoas, por mais que eu venha tentando estar junto com pessoas que eu sei que não estarão mais no meu cotidiano, eu não considero muito como despedida, porque penso que seguirei frequentando regularmente não só o local, mas as relações que aqui fizemos. Daí seria mais uma mudança de fase, uma nova organização de convivência, como novas frequencias e motivações, mas não uma despedida de fato.

Já com relação à serra em si, que foi a sutileza captada lá no início do meu texto, aí tem sim uma coisa interior da despedida unilateral... Mas, exatamente do que eu estaria me despedindo ? Em todos os meus planejamentos possíveis espero retornar muitas e muitas vezes à este local mágico, lindo e especial que é a serra da estrela.

Acredito que eu esteja meio que revisando uma espécie de lista de lugares que eu queria (quero!) conhecer de perto, mas que eu havia idealizado de visitar com outras pessoas, afinal são lugares que demandam esforços de conquistas (caminhadas, algumas longas, outras em subidas, etc), e que sempre tem outro sabor quando vivenciados com outras pessoas: o esforço, a conquista, a beleza rara da vista entocada, as delicadezas do compartilhar momentos de intimidade com a natureza intocada....

Por outro lado, a possibilidade de ir mapeando cada recanto desta serra, e também ir descobrindo que muitos destes recantos tem acesso bastante tranquilo a partir da estrada, vai trocando as excursões de descoberta, por uma rica agenda de locais com marcação do tipo: "tenho que trazer guilherme neste local", ou "uau, aqui a gente pode fazer um lual na lua cheia".

Então como resposta à minha amiga, penso que me despeço de duas coisas: uma é da virgindade dos locais que queria conhecer acompanhado pelo prazer da descoberta juntos (que fartura!). E outra, essa talvez mais fácil de perceber, é mesmo da minha vizinha serra da estrela, que hoje posso chegar em dez minutos e me entranhar em seus caminhos desertos, em suas qualidades afetivas de vizinha querida, de amiga, de mãe e de mestra. 


Monday, June 7, 2021

argumentação e decisão: o pensamento indutivo, o dedutivo e o intuitivo

 Aproveitando a onda de verdades e fake news, que vou simplificar no escorregadio "pós-verdade", um assunto me chamou a atenção:

O caso se deu numa conversa sobre vida extraterrestre e os possíveis contatos em talvez iminência....

O caso em si é valioso e merece aprofundamento, mas o que vou propor tem mais a ver com o título: metodologicamente podemos olhar métodos de estudo da realidade "convencionais" em indutivo e dedutivo. Uma parte do pensamento ocorre sem se enquadrar nesta classificação acadêmica. Já o qe sobressai desta possível classificação envolve muitos aspetos (e disputas) sobre uma fonte de conhecimento sobre a realidade (ou a verdade, mas prefiro fugir neste momento do debate do que é a verdade).

Estou chamando este conjunto de "ferramentas investigativas do domínio da realidade" que se localizam fora do pensamento dedutivo e/ou indutivo, de pensamento intuitivo. O melhor exemplo que penso se encaixa aqui foi uma amiga recente, que em conversa  comigo perguntou-me onde ficava o meu "orgão de percepção da verdade" 

Visando chegar na construção social disso aí, me parece perfeitamente válido a alegação do pensamento intuitivo em várias fases de investigação, de áreas também diversas. Me parece que na sociologia contemporânea, a reflexividade (e seus reflexos) ladeia com movimentos ligados à espiritualidade (a qualidade holística, por exemplo), à religião (muitas delas, senão todas), todo o vasto campo do interacionismo simbólico, e, claro, questões ligadas à infraestrutura e a super estrutura. 

A liberdade individual para pensar, elaborar, argumentar e acreditar ou não que faremos contato, que viemos de extraterrestres, que sejamos extraterrestres nós mesmo, ou qualquer derivação ou combinação com a dita espiritualidade reabre (ou mantém sob controle?) a deliberação pessoal racional acerca das próprias crenças. Entretanto o caminho argumentativo para suportar uma posição social que envolve escolha é reflexivo por definição, e além disso,  as escolhas e o processo deliberatório estão bastante sobrepostos na fronteira de estudos que envolve a psicologia, a psicologia social, alguma parte à psiquiatria, e a outros desvios psicopáticos relacionados ao poder, dentro e/ou fora do sistema capitalista de produção). 


TALVEZ ISTO SEJA DOMÍNIO DA PSICOLOGIA SOCIAL?