Tuesday, January 3, 2023

Algum caminho para a "sustentabilidade"?

Breve resumo de uma nova experiência acadêmica voltada para uma (pretensa) construção de um caminho sustentável (social, ambiental e economicamente, como está nos textos!)

1. A professora que diz que o pequeno produtor rural não representa nada significativo em Portugal, e o que importa são as grandes produções. Além disso, peca feio em não escutar as nossas perguntas até o final.

2. Outro professor diz, em seminário velho e desatualizado, que é possível que os gases de efeito estufa ajudem a esfriar o planeta (você viu isso?)

3. ainda outro professor (que também não escuta as perguntas até o final) comenta o lado pernicioso dos subsídios, sem ao menos se oferecer para detalhar as definições estratégicas da UE com relação aos subsídios para a transição para uma economia sustentável (ou bioeconomia circular, ou seja lá o que iremos tentar)

4. todos os professores (acho que todos disseram isso em algum momento, mas se exagero aqui peço desculpas) dizem que um aspecto forte do problema a enfrentar se refere ao aumento populacional. Ora, a Europa está há décadas enfrentando o problema inverso, de decrescimento da população, Portugal inclusive. Ou os professores não entendem o problema direito, ou não se prestam a nos ajudar a entender de forma estruturada onde é que isso se relaciona com o tema da sustentabilidade. Nem sei o que é pior entre essas duas hipóteses...

Nesse quadro eu preciso me manifestar aqui de forma um pouco mais estruturada. 

Acho que o curso que nós escolhemos é mesmo péssimo... Isso não me parece ser privilégio específico desse curso, que infelizmente constato -de forma empírica- ser representativo da qualidade média dos cursos desse tipo em Portugal. Mas isso não vai ser suficiente para que eu desista de estudar o assunto. Afinal, cursos ruins e professores péssimos já tive muitos, e isso não me impediu de seguir meus aprendizados. Porém precisamos de algo para não desanimar, pois de onde se espera apoio (pedagógico, emocional, etc), daí não virá nada melhor do que veio até agora. Ou nós nos organizamos entre nós para enfrentar essa realidade, ou isso seguirá sendo um tipo de “luta de todos contra todos”, e a gente já está cansado de saber onde vai dar esse caminho, não é?

o curso é mal estruturado e pior conduzido. Talvez tivesse sido melhor se fosse organizado em três vertentes com foco em: 

a) agricultores e gente que quer desenvolver o que aprende, aplicando na prática o mais rápido possível, como o caso do Bruno, que por sinal desistiu recentemente; 

b) quem quer lidar com regulações, organização do estado ou outras, para atuar na interface campo/sociedade, entendendo o problema de forma mais ampla, mas atuando não necessariamente no campo em seu dia a dia; e 

c) quem quer seguir o caminho acadêmico, aprofundando os estudos em qualquer das áreas afins e produzindo novos conhecimentos científicos e técnicos que possam auxiliar no caminho de uma sociedade mais sustentável.

Mas isso é só uma opinião minha, que compartilho aqui para tentar ajudar a quem quer decidir se fica ou vai embora (e pena que alguns de nós já tenham ido embora, e eu ainda não tinha estruturado esses pensamentos).

a falta de aulas “tradicionais”, que para mim foi um atrativo, está se revelando um fiasco dentro desse quadro, pois exige que estudemos sozinhos quase sem apoio pedagógico decente, e por fim sejamos cobrados de ter compreendido onde é que sustentabilidade se conecta com todas as disciplinas de fronteira (marketing, administração & gestão, agronomia, ecologia, sociologia, ciências políticas, entre outras)

parece estar absolutamente claro que, dentro do tripé da sustentabilidade apresentado, o fundamento económico está acima (e muito acima) dos demais pilares ambiental e social. Aliás, como sempre esteve em nossa sociedade, desde a revolução industrial até os nossos dias. E exatamente essa condição é que já se mostrou insustentável ambientalmente e socialmente, ainda que todos os dias sejamos expostos a argumentos que querem nos convencer de que economicamente estamos “bem”, com indicadores de GDP, produtividade global, etc. Aqui tem um nó que precisaremos desenvolver mais frontalmente, mas não vai caber aqui hoje.

E nós, o que temos a ver com isso? Afinal, escolhi (escolhemos) um curso pensando que poderíamos contribuir de alguma forma com um caminho para o mundo que fosse mais sustentável, de acordo? O que fazer agora?

Buscando seguir de forma estruturada, penso que temos as seguintes opções, individuais e/ou coletivas:
a) desistir do curso, e assim economizar o que ainda faltaria a pagar por esse curso, parar de encher o saco com isso, etc. Acho que ainda é uma boa hora de fazer isso, pois os custos totais que já tivemos até aqui (que na gestão se chama “custo afundado”) só vai crescer, caso ainda desistamos mais tarde. O timing perfeito para desistir depois de ver como seria era mesmo dezembro, e por isso já adianto que não é essa a minha escolha (e também por isso respeito a escolha dos que partiram).
b) seguir o curso capengando em conjunto, cada um enfrentando suas dificuldades e estudando sozinho, fazendo seus trabalhos e “segue a vida”. Acaba sendo o caminho "natural" dos que irão restar, sendo praticamente o caminho “default” de nossa sociedade e, arrisco dizer, é o que se espera de nós nesse curso.
c) tentamos nos organizar para nos apoiar coletivamente no caminho a frente, construindo uma rede de aprendizado entre nós, que sirva para nos apoiar e motivar como grupo, e que nos ofereça condição de lutar por alguma coisa diferente dentro desse curso.

Vou concluir refraseando o que falei ontem na aula: na minha forma de ver as coisas nós precisamos encontrar novas formas de fazer o mundo, para que seja sustentável. Simplesmente aprender como vem sendo feito até aqui (ou seja, partindo da premissa que “se fizermos melhor, iremos conseguir a sustentabilidade ambiental”) está evidente que não será suficiente. Temos que fazer outras coisas, de forma diferente. Ou ao menos tentar isso. “Mais do mesmo” só vai gerar também “mais do mesmo”, o que no caso significa poluição desenfreada e aquecimento global, desigualdade social e desequilíbrio das relações, concentração de renda e aumento da pobreza, etc. 

E quem é que está tentando fazer as coisas de forma diferente? Acho que é aqui que devemos concentrar nossas atenções coletivamente.  

Acredito que quem está tentando fazer as coisas de forma diferente são, para começar, pessoas que escolheram fazer um curso como o nosso. Por isso estou investindo nesse texto enorme para, mais uma vez, convidar a quem quiser enfrentar isso de forma coletiva para nos organizarmos e juntarmos nossas forças.
Axé, viva a vida, abaixo o fascismo (definitivamente). 
Tortura nunca mais!