na foto tudo parece igual... já parecia antes, mas agora, parou; e parado, reune o que separou, conecta pontas de tempos distintos e (re)move ilusões que pareciam somente minhas antes.
na foto tudo mudou. mudou me a mim, a ti, a ela, que sendo o que foi, sendo a que foi, ficou sendo. só.
na foto tudo mudou. o suporte físico, a química, o quarto escuro, a pinça pendurada, o exaustor barato, a luz vermelha. agora corre quarto de segundo entre o antes e o depois, já sem meia graça, sem graça, sem meia
na foto tudo mudou. nariz cresceu, cabelo caiu, dente quebrou, cara quebrou, ruga marcou, pele manchou... brilho resiste, insiste
o contraste parece querer ser tudo, ser todo. os delicados cinzas do ansell que me mostraste desvaneceram ainda mais... restaram na cabeça
as cópias rarearam, leicas rarearam, wilmas rarearam, marílias rarearam... e nós mesmo, rareamos
agora o instantâneo, ultra multiplicado por zilhões, congela o instantâneo num tudotodos de nemninguém que o sorriso congela, a dor congela, a garça congela, a graça congela
a foto vira filme, vira stream, virestrim, remédio de(s)memória
a foto, que ninguém viu, essa ficou. em mim, em ti. na lembrança do que senti, do que pensei que sentias, no que senti que sentias
e assim, em mim, fica também em ti. e nela, e nele. e afinal, em todos aqueles que a foto estampou, destampou. na parede da memória
a casca sagrada do agora. na fina camada que reveste o olho, eu olho. para o que ficou, para o que mudou, para o que muda, muda o que para.
muda. a foto.
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