Vendo o desenrolar deste governo "idiota útil"* que somos, penso nos (ex-?)amigos que declararam voto no atual idiota inútil na presidência, à época ainda como um mero "#elenão", em desesperança sangrenta a caminho.
Eu vejo três possibilidades clássicas para o amigo traído da história: A) nunca descobrir, daí segue como traído. Ou ainda, tomar conhecimento da situação, por si, pela própria mulher ou por outrem, e daí: B) desistir da relação, ou C) seguir na relação. É fundamental frisar que escolhe-se seguir na relação por muitos e diversos fatores quase sempre profundamente misturados entre si, desde a comodidade para evitar mudanças, até o orgulhoso pacto de tentar uma relação transcendente aos padrões - e será que já não havia este pacto antes do tal flagra? De qualquer forma, fora o pacto preexistente, que não se aplica em nosso caso de estudo à frente, existirá uma perda a enfrentar.
...
Ligando os pontos acima, penso nestes amigos e imagino seus sentimentos mais íntimos. Claro que ainda tenho uma reduzida esperança de poder conversar com estes, ainda que eu precise admitir que, numa visão pragmática do paradoxo do Karl Popper*, ainda não consigo nem pensar em interagir com estes.... Talvez o que sinto seja mesmo aparentado com àquela sensação do primeiro encontro com o amigo supostamente traído, logo após o tal flagra hipotético da historinha acima..
Eu costumava chamar isto de "vergonha alheia", mas as eleições que levaram o Bolsonaro ao poder tornaram este termo meio inútil, posto que elevou a vergonha à "padamares" impensáveis, a tal ponto de reverter a decisão antológica de nunca mais precisar mudar o lado da rua para evitar alguém, como um "ex-conge" assumido, por exemplo. Imagino hoje que alguns daqueles sentem seus "chifres eleitorais" já crescidos e vistosos e procurem uma auto avaliação que possibilitem sua circulação nas ruas sem nenhum tipo de constrangimento ou vergonha da relação estabelecida. Porque, ao meu ver, não se trata de "arrependimento". Arrependimento vem de um acordo aberto que não tenha dado certo. O candidato #elenão não trazia acordos para a mesa, nem fazia debates e nem apresentava planos de governo, confere? Portanto o que quero evidenciar aqui prefiro qualificar como vergonha: "sinto vergonha disto que fiz no passado!", e isto tem um sinônimo forte: desonra.
Pressinto que não são todos aqueles os amigos que sentem -e mesmo ainda que só um pouquinho, esta sensação de desonra. Mas tenho uma esperança! Pois neste caso as alternativas seriam ainda mais doloridas e afastadoras: assumir mais claramente o declarado gosto pela tortura, o racismo explícito e o egoísmo doentio do "farinha pouca meu pirão primeiro" mesmo estando de prato cheio até a borda. E por isso considero que praticamente todos aqueles estão nos diversos estágios da tomada de consciência da desonra. Vou pegar emprestado o modelo de Kubler-Ross sobre o caminho de como lidar com as perdas:
- Negação: "Isto não pode estar a acontecer."
- Raiva: "Por que eu? Não é justo."
- Negociação: "Deixe-me viver apenas até ver os meus filhos crescerem."
- Depressão: "Estou tão triste. Porquê me hei-de preocupar com qualquer coisa?"
- Aceitação: "Vai tudo ficar bem.", "Eu não consigo lutar contra isto, é melhor preparar-me."
Por um caminho tortuoso cheguei onde queria: tirando os assumidos torturadores e demais "armamentistas" de plantão, creio que a enorme maioria de nós estamos atravessando estes estágios, qualquer quer que tenha sido nossa escolha nas últimas eleições, e temo que apesar de nossas escolhas terem sido diferentes - e até opostas, nas eleições, estejamos chegando juntos em um enorme grupo na fase da depressão, sem perspectivas sobre como seguir nos cenários que podem ser vislumbrados. "Kübler-Ross originalmente aplicou estes estágios para qualquer forma de perda pessoal catastrófica", e isso se aplica a mim, ou seja, eu me reconheço numa perda pessoal catastrófica. Desta forma, o "chifre dos outros" já me atingiu, e em cheio...
PS importante:
primeiro não quero polemizar sobre todo o preconceito capitalista patriarcal que o conceito "chifre" pode trazer, mas a sensação que pode estar acompanhada no qeu usei como exemplo. depois me coloco também na situação simétrica e me imagino criando vergonha alheia em muitas (mas muitas mesmo), inclusive uma antológica que vivi com o mesmo irmão quando era igualmente criança, e para quem peço perdão e compreensão pelos caminhos obtusos e idiotas que tomamos na vida...
* obrigado ao Bob Fernandes pelo vídeo de hoje, e pelo esclarecimento lógico para nominar abertamente o atual presidente, aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=EAJE0X8r1oI&feature=youtu.be
Falei de Karl Popper aqui:
http://pedrogmfontes.blogspot.com/2018/02/desservico.html
Kubler-Ross, da wikipedia:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Modelo_de_K%C3%BCbler-Ross
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